Ambos relataram a insatisfação dos moradores dos distritos diante dos serviços prestados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais e afirmaram que não há tratamento de esgoto por parte da companhia nas referidas localidades.
Os vereadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de Patos de Minas, que investiga denúncia de possíveis irregularidades cometidas pela Copasa, ouviram mais dois depoentes de distritos na tarde dessa quarta-feira (22/9), no plenário da Casa Legislativa.
A 20ª (vigésima) oitiva da CPI foi marcada pelo depoimento do morador do distrito de Chumbo/Areado, Nascimento dos Reis Araújo – Xel. Na sequência, os parlamentares ouviram a 21ª (vigésima primeira) depoente dos trabalhos, moradora do distrito de Bonsucesso, Elizabeth Maria Lopes de Oliveira. Ambos relataram a insatisfação dos moradores dos distritos diante dos serviços prestados pela Copasa e afirmaram que não há tratamento de esgoto por parte da companhia nas referidas localidades.
Conforme informou a presidente da CPI, vereadora Elizabeth Maria Nascimento e Silva – Professora Beth, a Comissão Parlamentar de Inquérito encerra, com os depoimentos dessa tarde, as oitivas dos moradores dos distritos, que, segundo a parlamentar, tinham como objetivo dar voz aos moradores das comunidades rurais e, assim, conhecer as realidades e frustrações de cada localidade. Na ocasião, a presidente da CPI ressalvou que, de todos os distritos de Patos de Minas, somente o de Pilar não foi ouvido, devido a dificuldades dos moradores em comparecerem à Casa Legislativa.
Confira os principais destaques de cada depoimento realizado na tarde dessa quarta-feira (22/9):
* Depoimento do morador do distrito de Chumbo/Areado, Nascimento dos Reis Araújo – Xel:
Nascimento dos Reis Araújo, mais conhecido como Xel, é ambientalista e coordenador do SOS Areado. Ele afirmou residir praticamente a vida toda no distrito e disse que, no perímetro urbano, há menos de 300 habitantes, sendo a maioria idosos, “já que os jovens acabam saindo da localidade por não haver geração de renda na comunidade”.
Sobre os serviços de água na localidade, Xel afirmou que a Copasa realiza o devido tratamento de água no Distrito. Entretanto, ele relatou que, antes da Copasa, Areado ficou praticamente abandonado, por 10 anos, sem o tratamento de água. “Antes de a Copasa ir para o distrito, a maioria das pessoas eram doentes em razão da falta de tratamento de água até então. Sem a Copasa nos distritos, as localidades estariam numa situação complicadíssima, pois a Prefeitura nunca deu conta do fornecimento de água”, manifestou. Segundo Xel, quando a companhia foi para o distrito, grande parte dos problemas foram resolvidos, no entanto, o morador de Areado ressaltou que, “desde que a Copasa chegou ao distrito, ela já pegou toda a estrutura de água e de esgoto já construída, com recursos do Banco Mundial”.
De acordo com Xel, a Copasa possui, em Areado, um reservatório de água no tamanho de 60 mil litros. Para ele, a estação de tratamento de água “é muito bem cuidada” e a água fornecida pela Copasa chega às residências em bom estado aparente. Sobre o tratamento da água, Xel acredita que seja realizado com os mesmos componentes utilizados em Patos de Minas. Por outro lado, o morador de Chumbo/Areado relatou que sabe que, em alguns distritos, como, por exemplo, em Major Porto, a água fornecida já não é de tão boa qualidade. Além disso, o ambientalista afirmou que não existem muitos episódios de falha no abastecimento de água em Areado, mas quando tais falhas ocorrem, o problema é sanado com eficiência e rapidez pelos funcionários da empresa, os quais ele considera competentes e prestativos. Além do mais, questionado se a cobrança referente à energia gasta pelo poço artesiano é feita pela Copasa aos moradores ou paga pelo Município, Xel disse que tudo é incluído na fatura de água da Copasa.
Já sobre o esgoto, o ambientalista informou que o distrito possui 4 estações e “todas estão em estado ruim”. Entretanto, apesar de existirem as estações de tratamento de esgoto, Xel afirmou que a Copasa não realiza o tratamento de esgoto em Areado, apenas a coleta, de forma parcial e precária, inclusive, ele apresentou aos integrantes da CPI fotografias comprovando essa questão. “O esgoto cai in natura em córrego local, e, em algumas estações, o esgoto não está chegando ao local que deveria. Ao chegar na caixa, o esgoto desaparece, não chegando à estação de tratamento. Na parte Sul, há uma situação bem desagradável, com todo o esgoto cru caindo dentro do rio”, relatou o morador do Chumbo/Areado.
Nesse sentido, o ambientalista também afirmou categoricamente que não só em Areado, mas em todos os distritos, não há tratamento de esgoto. Segundo ele, “apesar disso, os moradores dos distritos pagam uma taxa pelo tratamento do esgoto que não é feita, sendo feita apenas, em alguns casos, a coleta do esgoto”.
Além disso, Xel complementou que, em razão do esgoto lançado no rio, os animais não podem beber água e os moradores das casas próximas às estações de tratamento ou de coleta de esgotos sofrem com inconvenientes em decorrência do grande mau cheiro. Questionado pela CPI sobre qual é o estado aparente do curso d’água onde é descartado o esgoto, Xel disse que, no momento, todos os córregos da região estão secos, havendo, no entanto, o esgoto que é lançado neles, que também gera mau cheiro no local.
Sobre possíveis melhorias feitas pela Copasa no distrito de Areado desde que a Copasa assumiu o serviço na localidade, Xel contou que a empresa fez a ampliação de algumas redes de água, aumentando a vazão, mas não foram obras de alto valor, mas apenas obras necessárias para que a água chegasse às residências. “O que pega mesmo é a questão dos esgotos”, relatou. Para ele, a falta de providências da Copasa está acabando com o meio ambiente.
Diante do exposto, Xel afirmou que o Município não fiscaliza a prestação de serviço da Copasa no Distrito de Areado/Chumbo e sugeriu que a Câmara Municipal institua uma comissão para visitar a localidade e constatar as informações fornecidas por ele. “O Município precisa criar comissões e punir, por exemplo, as pequenas barragens que estão sendo construídas nos córregos e rios da localidade; e a Câmara deveria cobrar ações do poder Executivo que impeçam essas barragens”, propôs o morador.
Os integrantes da CPI da Copasa também questionaram o morador de Areado sobre quando surgiu e quais são as ações desenvolvidas pela SOS Areado. Xel então respondeu que a organização existe desde 20 de fevereiro de 1987, promovendo diversas ações e importantes encontros ambientais, dentre eles, diversos peixamentos nos rios, bem como plantação de inúmeras árvores próximas aos leitos dos rios. “As ações desenvolvidas pelo SOS Areado são constantes, inclusive com o envolvimento da classe estudantil das duas escolas da localidade”, informou. O ambientalista complementou, ainda, que a Copasa não contribuiu com a SOS Areado, mas que o Município já participou de ações em algumas gestões, inclusive, Xel manifestou que acredita que o atual prefeito também dará a sua colaboração.
Os vereadores da CPI também fizeram várias outras perguntas referentes a questões ambientais. Assim, sobre quais são dificuldades de captação de água e quais são os córregos que precisam de um cuidado mais preciso, o morador do distrito respondeu que, ao longo dos 15 anos, foi “matado” o Rio de Bonsucesso, e que o córrego do Areadinho, bem como outros córregos que desembocam no Rio Areado também estão em estação degradante, de forma que, se não forem tomadas providências, o Rio Areado irá acabar. “A situação é realmente preocupante”, desabafou. Além disso, Xel informou que, no Córrego do Arroz, não está sendo possível mais fazer o peixamento, pois ele também já está acabando e que, diante da devida falta de cuidados, o Rio Abaeté e o Rio do Areado são os responsáveis por grande parte do assessoramento do Rio São Francisco, “o que já é de conhecimento da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf”, afirmou Xel.
* Depoimento da moradora do distrito de Bonsucesso, Elizabeth Maria Lopes de Oliveira:
A depoente Elizabeth Maria Lopes de Oliveira informou que reside no Distrito de Bonsucesso de Patos há 15 anos, sendo a presidente do CDC do distrito. A depoente afirmou que há tratamento de água feito pela Copasa em Bonsucesso e relatou que havia uma sede da Copasa em uma fazenda, mas agora a comunidade está recebendo água de um posto artesiano. “A gente tem ouvido várias reclamações a respeito da água que está indo para a comunidade”, destacou Elizabeth. Ainda segundo ela, os moradores relatam que a água “está dando uma nata por cima e está um pouco escura” e que “as roupas não estão ficando limpas em razão da cor suja da água”.
Sobre a Estação de Tratamento de Água, a moradora do distrito informou que antes, a estação era muito bem cuidada, porém, depois que água do Rio Bonsucesso diminuiu, a água passou a ser retirada do poço artesiano. “Como eu moro na fazenda, eu sempre via o movimento dos funcionários passando, mas depois que o córrego diminuiu muito, passou para esse poço artesiano de outra fazenda. Aí já não sei como está a situação. Não sei se tem estrutura”, ressaltou Elizabeth.
O vereador-relator também questionou sobre qual o estado aparente da água fornecida pela Copasa que chega às residências. De acordo com a depoente, a água chega encardida, com aspecto escuro. Elizabeth informou, ainda, a existência de um reservatório de água no Distrito, porém não soube dizer qual é o tamanho.
Já com relação às questões de esgoto no distrito, Elizabeth afirmou que existe apenas coleta do esgoto. “O esgoto lá cai no Córrego do Bonsucesso e tem um mau cheiro muito grande. As pessoas que moram próximo sempre reclamam”, acentuou a depoente. Ainda segundo ela, a Copasa cobra a taxa de esgoto nas faturas de água da localidade.
Indagada pela CPI se o Município fiscaliza a prestação de serviço da Copasa no distrito, Elizabeth disse que não tem conhecimento e que também não realiza essa fiscalização. Além disso, questionada se a companhia realizou alguma obra no distrito para melhorar a estrutura e a prestação de serviço, a moradora informou que houve apenas obras de manutenção. Nesse sentido, perguntada se a Copasa danifica as vias públicas para acessar alguma estrutura subterrânea e demora para restaurar o serviço, a depoente afirmou que “esse serviço deixa a desejar”. Já sobre o valor das faturas de água paga pelos moradores do distrito, Elizabeth considera que não acha justo, justificando que “os moradores pagam por um serviço que não é prestado em sua totalidade”.
A gravação das oitivas está disponível, na íntegra, nos canais oficiais da Câmara Municipal de Patos de Minas na internet: Facebook, Youtube e site camarapatos.mg.gov.br para transparência e conhecimento da população.
Autor: Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Patos de Minas.